"PARA VER O AZUL DA CARNE é um solo de dança contemporânea criado pela dançarina e artista plástica Érica Tessarolo, com duração de 40’. Foi estreado em Junho de 2010 integrando o programa Semanas de Dança – Diálogos, do Centro Cultural São Paulo. No mesmo ano, participou do projeto Primeiro Passo, do SESC Pompéia, no qual apenas coreografias consideradas inaugurais na carreira dos artistas proponentes eram selecionadas. Sob este ponto de vista, PARA VER O AZUL DA CARNE é o primeiro solo no qual Érica Tessarolo assina concepção, criação, interpretação e direção coreográfica concomitantemente. Nos trabalhos anteriores, contou com a colaboração e a direção de outros artistas, neste, lançou-se ao desafio de estar sozinha em todas as etapas da composição coreográfica.
Também representa uma pesquisa
longa, desde 2007, quando, já com o bacharelado em Artes Plásticas na bagagem e
cursando a graduação em Dança na UNICAMP, Érica Tessarolo passou a se envolver
com coreógrafos que trabalham na intersecção entre diferentes linguagens
artísticas. Com Marisa Lambert, docente do Departamento de Artes Corporais da
UNICAMP, desenvolveu os solos TU NÃO TE MOVES DE TI, transposição da obra
homônima da escritora Hilda Hilst, e A FIGURA E O FATO, Trabalho de Conclusão
de Curso, já inspirado na obra de Francis Bacon. Como estagiária da Companhia
Borelli de Dança, acompanhou a remontagem de O PROCESSO, do coreógrafo Sandro
Borelli, inspirado em livro homônimo de Franz Kafka. Com Vanessa Macedo,
diretora da Companhia Fragmento de Dança, interpretou SOB A NUDEZ DOS OLHOS,
inspirado no livro Ensaio Sobre a Cegueira, do escritor José Saramago, BEIJE
MINHA ALMA, inspirado na vida e obra da artista plástica Tracey Emin, CORPOS
FRÁGEIS, inspirado na vida e obra de Billie Holiday, Frida Kahlo, Katherine
Mansfield, entre outras, e ANJOS NEGROS, inspirado na vida e obra de Virgínia
Wolf. Com Juliana Moraes, diretora da Companhia Perdida, foi
criadora-intérprete de (DEPOIS DE) ANTES DA QUEDA, inspirado nas fotografias de
Francesca Woodman, e atualmente participa do trabalho PEÇAS CURTAS PARA
DESESQUECER, cujo processo de criação revisitou a obra de Lygia Clark sob o prisma
da pesquisa desenvolvida pela bailarina Ana Terra, docente da Universidade
Anhembi Morumbi.
Conceitualmente, PARA VER O AZUL DA CARNE olha para o tríptico
Três Estudos para Figuras ao pé de
uma Crucificação, do pintor Francis Bacon, buscando possibilidades para uma
investigação de movimento e coreografia. A crucificação, o grito, o isolamento
e a deformação da figura são temas recorrentes na obra de Bacon; assim como “as
carnes”, tidas como símbolo da existência de homens e bichos, é local assumido
de mergulho poético e investigação pictórica. A previsibilidade na
representação das figuras e dos ambientes que as cercam também é algo que não
existe em suas pinturas. Nesta obra estudada, por exemplo, a carne não é
vermelha – como a associação imediata que se faz – e a crucificação independe
da existência de uma cruz – como ao longo de séculos instaurou o pensamento
cristão. Este lidar com questões comuns
de modo inusitado, tão presente na obra deste artista, instigou Érica Tessarolo
enquanto criadora. Dessa forma, as carnes azuladas de Três Estudos para Figuras ao pé de uma Crucificação sugeriram a cor azul como uma metáfora para sua dança, alimentando a
busca pelo inusitado do seu corpo, o “azul da sua carne”.
Em cena, um espaço claro e uma figura borrada, a partir do intercalar de movimentos de extrema
lentidão e extrema agilidade.
Recentemente PARA VER O
AZUL DA CARNE foi contemplado pelo Programa de Ação Cultural/ProAC 2011,
da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo e prevê circulação, pela
capital paulista, em setembro de 2012; assim como a recriação do
figurino e da trilha sonora. O solo, segundo Érica Tessarolo, depois de dois
anos de dedicação ininterruptos, numa luta insistente contra os ritmos impostos pelo "mercado cultural", respeitando o tempo do fazer artístico, encontra-se agora um pouco modificado e mais maduro."
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