Demorou,
mas há pouco mais de dois meses começamos a trabalhar com o auxílio do “Programa
de Ação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura”, o ProAC. Começamos:
Alessandra Souza, Daniel Dias e eu. Pra quem não sabe, o solo que criei em 2010
chamado “para ver o azul da carne” conta agora com uma verba para ensaios,
oficina, recriação de trilha sonora e figurino, e temporada de três finais de
semana na cidade de São Paulo. Estou feliz, e envolvida com o trabalho. Nesse
começo, assisti inúmeras vezes ao registro em vídeo de 2010, retomei
corporalmente os movimentos da coreografia e analisei toda sua estrutura de
modo a identificar os movimentos que constituem a “cara do solo”. É o início de
um aprofundamento vertical, um olhar sobre o que já tenho em mãos e uma busca
por desenvolvimentos possíveis. Caminho com cuidado, porque, como já disse, o
solo foi criado há dois anos e posso acabar fazendo uma nova coreografia se me
ater somente às vontades que tenho hoje. Um risco potencializado pelo fato de
que, como também já disse, a trilha sonora e o figurino serão diferentes dos de
2010. Alguém pode até me perguntar o porquê dessa preocupação, achá-la um pouco
exagerada, já que a cada dia estamos diferentes e que talvez não exista
problema algum em transformar uma coreografia em outra. Ok, o contexto da dança
contemporânea está cheio de exemplos de “revisitas” e “releituras” que acabaram
transformando coreografias antigas em obras inéditas, obras melhores inclusive.
Talvez, deva dizer apenas que não é o que eu quero por hora, afinal tenho um
projeto para amadurecê-la e não abandoná-la. E o que é esta coreografia? Quais
movimentos sustentam sua identidade? O que dela pode ser modificado sem que ela
deixe de ser o que é? Como dançá-la sem ignorar as diferenças que percebo em
meu corpo, decorrentes do trabalho contínuo, da vida? É por aí que vou
seguindo. Cheia de questionamentos, pra honrar a criança perguntadeira que já
fui um dia! Vou postar algumas reflexões, informações e imagens sobre esse
processo aqui no abridela, sob o marcador “para ver o azul da carne”. Se
quiserem acompanhar, comentar os posts, trazer reflexões novas, sugestão de textos, vídeos,
serão bem-vindos!
Muito inconscientemente aquele poema(se é isso mesmo)que escrevi tem muito a ver com o que vi em 2010, um pouco da parte do texo do seu solo. Vendo isso me deu muita inspiração pra trabalhos futuros que com certeza farei (não necessáriamente Bacon), mas a maneira de pesquisar e entender enquanto artista - criador aquilo que eu tô fazendo, sem fugir daquilo que acredito enquanto criadora. É claro que as vontades devem estar presentes, mas o mundo - principalmente o das artes - não vive de vontades, é preciso olhar crítico o tempo todo e, muitas vezes esse olhar, que muitas vezes é o nosso próprio olhar crítico que ao invés de construir, desconstrói toda um ideia que percorre um caminho tortuoso, até chegar no lugar que queremos... é muita coisa rolando na minha cabeça agora, mas o que eu quero dizer e, que talvez não tenha dito anteriormente nesse pequeno texto-comentário é que eu não vou parar, minha pesquisa sempre estará qui, até porque nossa vida de artista é um processo criativo eterno, nosso corpo se reinventa diariamente, nossas ideologias e cranças também se modificam.
ResponderExcluirÉrica, fica aqui um super abraço de obrigada por dar aos meus olhos e mente novas possibilidades de ser alguém pensante.
Um beijo grande minha flor.
Jú!
Pensar e repensar, fazer e refazer sempre! Aceitar os ciclos, as repetições de nós mesmos. E viver intensamente cada transformação. Beijo em você.
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